Do Vernáculo e do Moderno. As pousadas do S.N.I. de Rogério de Azevedo.
Propomo-nos analisar as Pousadas projetadas por Rogério de Azevedo do ponto de vista da articulação entre Vernáculo e Moderno.
Formado no Porto exerceu a sua profissão numa época marcada pelo regime do Estado Novo onde os valores da identidade nacional determinam um ambiente em que a liberdade artística é fortemente condicionada. Em simultâneo, potenciada pela informação que chega do estrangeiro, vive-se uma época de transição na qual os valores do moderno ganham protagonismo.
A sua enorme capacidade de adaptação a diferentes circunstâncias abre caminho para se analisar, também, o modo como a sua arquitectura se concretiza na relação com uma paisagem natural intensa e com a beleza de um mundo rural rude e culturalmente isolado. Nesta vertente referimos os projetos para as três pousadas do SPN/SNI: São Gonçalo Marão (1942), Santo António Serém (1942) e São Lourenço Penhas Douradas (1948). A produção deste arquiteto, pautada por uma certa ambivalência, desenvolve-se entre classicismo, modernismo e nacionalismo.
As pousadas integram-se no Programa de Desenvolvimento do Turismo em Portugal, de acordo com o pensamento de António Ferro, marcado ideologicamente pela apologia da vida simples do mundo rural e da sua pretensa autenticidade, promovendo mecanismos de contemplação e usufruto daquele mundo natural ou da sua intocada paisagem envolvente. Estas obras aproximam-se da vertente regionalista que o cliente e o próprio programa impunham. A resposta encontrada é a de uma arquitetura como mecanismo de observação e contemplação, tentando uma integração cuidada no terreno, adaptando-se organicamente à sua morfologia, procurando uma implantação e uma forma que, com ele, se relacione com naturalidade, sem ferir a sua integridade. A utilização de materiais disponíveis na zona e um cuidadoso tratamento da escala e da volumetria transformam estes edifícios num valor que se acrescenta à paisagem pré-existente, respeitando, em absoluto, o seu carácter. Não sendo miméticos, interpretam-na, afirmando-se como uma subtil qualificação, sem estabelecer ou propor nenhuma rutura.